Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres de todos os dias

Mulheres cor café com leite, misturadas, mulheres de face encardida que caminham nas ruas obscuras, mulheres anoréticas que escondem maças verdes nas algibeiras e pesam os sonhos,  mulheres redondas que dão gargalhadas gulosas por entre os sacos transparentes barulhentos recheados de gomas coloridas, mulheres compridas com pernas esbeltas de gazela que fazem os olhos parar, mulheres pequenas portuguesas, mulheres enrugadas que escrevem no rosto cada página, mulheres-menina ansiosas, reluzentes e vivas, mulheres com muitos anos, mulheres-vendidas, orfãs de si mesmas, mulheres de pés descalços, encardidos, duros, cicatrizados,  mulheres de saltos agulha que ecoam num caminhar frenético pelos corredores de tecto alto, mulheres-chefe imponentes, mulheres de saia a bater nos pés, mulheres despidas, sem pudores, mulheres da terra, com mãos calejadas pela enxada e unhas sujas, mulheres da casa que salpicam o avental já desbotado de água quente fervilhante das panelas de todos os dias.
Mulheres-prisoneiras de sonhos rasgados, débeis, pálidas, mulheres-piloto que abrem as asas e voam, mulheres do mundo que riem por entre outras mulheres numa tarde de esplanada, mulheres curiosas que sussurram a vida de outras mulheres, mulheres mesquinhas que se escondem atrás das lentes escuras dos óculos de sol, mulheres sonhadoras que pintam nuvens no tecto do quarto, mulheres pobres que gritam sozinhas.
Mulheres-professoras que desenham sublimemente as letras do abecedário com pau de giz, mulheres-carteiras que debaixo de chuva deixam um pedaço de vida em cada caixa do correio, mulheres-cozinheiras que têm braços fortes de remexer a sopa, mulheres-prostitutas que abanam a alma em troca de uma nota, mulheres-presidente que marcham à frente dos homens, mulheres-surfistas que se deitam nas ondas e se encostam no colo da areia...
Mulheres de si mesmas, mulheres dos homens, mulheres dos filhos, mulheres dos filhos dos filhos, mulheres de outras mulheres, mulheres dos outros.
Mulheres há muitas... (como já alguém dizia)
 
Às Mulheres-Maria, Mulheres-Rita, Mulheres-Ana, Mulheres-Sofia e a todas as mulheres que conheço, que não conheço e talvez vá conhecer, e às que jamais irei conhecer.
 

2 comentários:

  1. Parabéns pela MULHER, com um bocadinho de quase todas estas mulheres...´, que escreve deita ca para fora o que lhe vai na alma e nos prende todos os dias ao computador á espera de novas palavras de novas histórias de novas vivencias com as quais, grande parte delas, nos identificamos ou pelo menos reconhecemos.

    comentario de um Homem.

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    1. Obrigado ao Homem que perde um pouco do seu tempo por entre os estetocopios e os biberões...
      Beijo Sofia

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