Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


terça-feira, 26 de março de 2013

Retrato de um Domingo de Páscoa

Flores colhidas preciosamente caidas pelos degraus das escadas, sino que se ouve estridente do outro lado da aldeia, senhores de branco que erguem uma cruz beijada, domingo em que o acordar era fugaz com o sol meigo a derreter os pés da cama, amêndoas cor-de-arco-íris numa taça brilhante que desaparecem nas algibeiras do compasso, uma nota rica embrulhada num envelope vazio sobre a mesa que os senhores pegam quase às escondidas, ovos pintados à mão que se desmacham em sal e pimenta e se engolem um atrás do outro sem parar, primos que se abraçam a segunda vez no ano. É o retrato de um Domingo de Páscoa antigo com perfume a flores de primavera, toque morno da brisa e sabor a amêndoas elegantes que desenham bebés.
Fotografei-o num suspiro ao olhar os vidros imaculados da confeitaria colorida e com perfume doce. Amêndoas gordas, vestidas de lilás, com cheiro a açucar, amêndoas morenas e tostadas, amêndoas magrinhas anoréticas a esconder o chocolate na barriga, amêndoas recortadas que desenham frutas... e, as amêndoas-bebés elegantes, cor-de-rosa e maternais...Eram as amêndoas-bebés que me faziam enfiar as mãos pequenas e atrevidas nos voluptuosos pacotes recheados que a avó me dava e num rodopio delicado, encontrá-las. Passávamos a tarde de Domingo de Páscoa na busca secreta das amêndoas-bebé...Lembrei-me disso, do sabor amargo a uvas azedas e de como eram raras, e confesso que, o pensamento de adorar aquelas amêndoas é um pouco assustador agora... Risos...


Amêndoas-bebé...


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