Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


terça-feira, 26 de março de 2013

As escolhas do R.

Carros vermelhos que se mexem quase sozinhos, baloiços sonhadores pendurados no tecto de nuvens, bolas coloridas, casinhas de duende deliciosas, violas cantantes, livros com ilustrações encantadoras... mas as escolhas do R. são as brincadeiras que desenha com pedaços de nada, transparentes e que o fazem rir até quase parar de respirar.
Esconde-esconde do R. Encosta os braços rechonchudos num abraço e deixa cair as pálpebras manhosas por segundos, as pupilas saltam por cima dos ombros num espreitar repentino, soletra os algarismos desordenados e distorcidos e num breve segundo chega ao dez. Dez segundos anões que me fazem correr em busca de uma porta entreaberta, sustenho a respiração e sinto os passos desajeitados a aproximarem-se com um sorriso agora ainda mais desdentado...E, sou apanhada com um abraço repentino!
R., é o Rei. Num ápice de cansaço, eu e vovó de pele cor de cevada, erguemos o R. numa cadeira-poltrona transparente que se levantou até ao céu. Numa dança pausada e com um gesto de aclamação de realeza, gritamos, é o Rei! Os olhos reluzentes por entre o frio enevoado que mimava o rosto diziam que a partir daquele momento o colinho era uma conta matemática de igual a cadeira do rei.
Histórias das coisas do R. Delicia-se com as histórias escritas num piscar de olhos e derramadas em palavras simples, enfeitadas pelas mãos e sussurradas ao ouvido. Pede a história das meias, a história das luzes, a história das coisas que eu nem me lembro que existem...Pede-as num desenrolar de pensamento, imparáveis e escuta-as num silêncio atroz, encantado. E, só paramos para o café...aquele café de todos os dias, o meu favorito!
O carro do R.. O R. tem um carro, que diz ser amarelo, com uma porta única e um volante que gira sem parar, mas que é concerteza muito velho. Avaria todos os dias, furam-lhes os pneus, e está sempre um frio tremendo que avisa com os olhitos arregalados e um gesto de aperto que aquece. Nunca ninguém o viu, mas o carro amarelo leva-nos pelas ruas estreitas do imaginário...
As asas do imaginário levam o R. num voo sem fim...Voar assim não custa nada e faz rir até doer a barriga!


Conselho de Pediatra que é Mãe do R.: dêem asas ao imaginário de cada príncipe e princesa, abram as janelas e deixem-nos voar de mãos dadas... se doer a barriga ou custar a respirar, não tem mal, porque será de tanto rir à gargalhada.


Esconde-esconde do R.

Um comentário:

  1. Um abraço imaginário mas bem real à mãe pediatra do R, ao pai do R e à avó Lena da educadora do Pai do R
    um grande beijinho a voar nas asas da imaginação
    Nazaré

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