Os filhos dos outros.
Aos filhos dos outros daríamos repreensões severas nas birras do corredor do supermercado. Aos filhos dos outros não daríamos tablets para acabar de almoçar em silêncio. Aos filhos dos outros tiraríamos a chupeta, a fralda, o leitinho da noite em tempos escritos nas revistas. Aos filhos dos outros cumpriríamos todas a regras de etiqueta, todos os calendários, todos os timings. Aos filhos dos outros não se admitiriam erros ortográficos, mentiras de miúdo, asneiras de conversas de escola.
Quantas vezes já deram por vocês a dizer «Ai, se fosse meu filho...»? Pois, mas não é. É filho dos outros. A educação no colo dos outros é fácil, crítica, desinibida e até leviana. O «se fosse meu filho, não faria isto ou aquilo...», é quase leviano e eu própria já o fiz (antes de ser Mãe). É impossível separar o coração e a razão, o que vem escrito nos livros científicos e o que sai da boca em determinado momento. É questionável o abraço que sai dos braços quando o momento devia ser de olhar repreensivo. É questionável levar mudas para a escola para o caso de ..., sabendo que em caso de ... a reprensão devia ser o não ter muda de roupa (será que devia?). É questionável quando falamos dos filhos dos outros, mas não é questionável quando falamos dos nossos filhos. Não tem que ser questionável quando se funde o coração (e, quando este é enorme) e a razão. Sou de um amor permissivo qb e deixei de tentar de ser mãe dos filhos dos outros.
Porque sem amor, tudo é mais fácil, objectivo, duro. Mas com forte tendência a congelar.
Eu, numa birra fotográfica |
Digo isto tantas vezes a quem ainda não é mãe ou pai: "Não fales que um dia serás tu naquele lugar."
ResponderExcluirTambém já deixei de ser "mãe dos filhos dos outros" quando passei a ser Mãe dos meus.
Um beijinho.