Os filhos dos outros, nascidos em colos de ouro ou numa rua escura qualquer, são príncipes e princesas às cores, enfezados ou rijos, têm nomes compridos difíceis de aprender a escrever ou pequeninos que se desenham num sopro, chamam-se Maria em segundo lugar ou simplesmente Maria, tocam piano ou jogam ao pião nas ruas do bairro, calçam sapatos de bailarina ou andam descalços na terra, vão ao mercado com a Mãe ou ficam em casa sozinhos, espirram, tossem, caem, dão as mãos...
Os filhos dos outros são os filhos dos que suam no jogging matinal ou dos que suam às 6 horas da manhã para apanhar o autocarro apinhado de muitos outros, dos que viajam para Paris de avião de algibeiras recheadas ou dos que vão para Paris numa carrinha feia e desgastada com uma promessa vã.
Os filhos dos outros são os filhos dos que suam no jogging matinal ou dos que suam às 6 horas da manhã para apanhar o autocarro apinhado de muitos outros, dos que viajam para Paris de avião de algibeiras recheadas ou dos que vão para Paris numa carrinha feia e desgastada com uma promessa vã.
Eu, tenho muitos filhos, muitos filhos dos outros, no mundo dos príncipes e princesas sem relógio e no mundo em que o relógio corre velozmente contra o vento... Respiro com eles, abraço-os com os olhos, faço danças mágicas com as mãos e o pensamento, invento histórias fabulosas, afago-lhes o cabelo, voo acima das nuvens e mostro-lhes o sol, o sol que é de todos. Agarro na história destes príncipes e princesas de mil cores, e faço-a rodopiar em espiral. Sustenho a respiração muitas vezes, sinto a dança irrequieta das borboletas na barriga, fico com a boca seca e as mãos lavadas em água.
Momentos em que sou, e atrevo-me a dizê-lo, uma quase Mãe dos filhos dos outros.
A crónica Os filhos dos médicos é uma crónica do pensamento, não é um desabafo de uma Mãe que viaja entre dois mundos, é uma crónica que sabe a malagueta vermelha que, misturada com uma colher de pau e uma chávena de água a borbulhar à crónica Os filhos dos outros, é levada ao lume numa panela de ferro...
E sai: os filhos dos médicos e os filhos dos outros, são príncipes e princesas iguais, coloridos e que querem ser felizes, rir a gargalhada e sonhar sem paredes, com ou sem doenças raras.
Para além das nuvens, SRF & GF & um príncipe filho dos outros |
A luz ao fundo do túnel... FC & MA & um príncipe filho dos outros (retrato gentilmente roubado ao amigo de sempre RB) |
Sofia(podia escrever Drª Sofia, mas a forma como abre o seu coração e a porta para a sua vida, impedem-me de ser neste momento formal),
ResponderExcluirEscrevo (só) para dizer que o seu blog é maravilhoso. A sofia é uma mulher com uma força e uma capacidade de relativizar extraordinárias. Visitei-o pela primeira vez ontem, e cheguei através de links de links e fiquei colada... Agarrada às suas histórias, que li com muita emoção...
Obrigada pela partilha e pela reflexão que me obrigou a fazer.
Beijinho e continarei a segui-la.