Os senhores grandes de relógios quase parados são altos como torres ou minúsculos, usam uns vidrinhos transparentes em frente aos olhos, cantam palavras enormes e feias, escutam melodias agressivas de piano e sob a luz fosca de um candeeiro majestoso mergulham em livros de mil páginas... Derramam teorias científicas acabadas de publicar nas últimas folhas de um jornal de Oxford, num tom austero e despido de interrogações, envergam a realeza da bata alva que trazem vestida, sem nunca levantar os olhos da secretária envelhecida e das mãos frias que não se tocam. Vomitam um destino cruel, cego, vazio a um príncipe sem medo e a uma senhora-mãe que ainda com o peso de barriga-balão, cerra os lábios framboesa e acolhe a decisão como um eco sem fim. Imóvel, estático, gélido, em momento algum ergue os olhos dos papéis rabiscados de tinta permanente, estende a mão ou compõe o traje branco catedrático.
O relógio da parede cinzenta dita meio-dia...Um meio-dia em que ao pequeno R. na imensidão dos seus poucos dias de vida, um senhor de relógio quase parado lê a sentença de ser invisual.
Muda, a senhora-mãe ergue o mundo às costas e o castigado R. nos braços trémulos e sai da escuridão vazia da sala minúscula, percorre corredores labirínticos até um porto de abrigo.
Os senhores grandes de relógios quase parados às vezes enganam-se, às vezes não...O R. olha o mundo a cores, diria até amarelo (a sua cor favorita, vá-se lá saber porquê), mas mesmo que o mundo não fosse colorido aos olhos do R., os seus olhos seriam sempre mais vivos do que os dos senhores grandes de relógios quase parados.
Os senhores grandes de relógios quase parados não precisaram de aprender a respirar, correr, falar, comer... mas precisam de aprender a Olhar para o outro lado do Mundo, onde existem príncipes e princesas sem relógio, para que lhes seja permitido discursar com sapiência.
R. a espreitar para o Mundo de cá... |
Palavras que tocam no meu coração...
ResponderExcluirO pequeno R. é enorme lindo do mais inteligente que se possa imaginar...
Love You!