CeReJaS. Gordas-balão, pele envernizada de uma juventude capa de revista, vestidas de vermelho-escarlate, ainda com pé verde solitário que fervilha na chaleira e perfuma um chá antigo da avó, que estalam na boca em cada duas únicas trincadelas, que arrepiam a alma. Adoro bancas de rua onde as cerejas são bailarinas-equilibristas a fazer beicinho repleto de gloss para irem parar a qualquer terrina de uma qualquer casa e não ficarem para o dia seguinte à espera de serem compradas. Adoro cerejas que chegam em sacos plásticos quase transparentes ou em caixas-branca gourmet. Acho que adoraria ver cerejas nas árvores e roubar uma ou outra, mas nunca vi. Adoro brincos-de-cereja desde sempre a enfeitar as orelhas virgens de uma princesa-bailarina de cabelo atigelado preto-carvão. Adoro devorá-las uma a uma, quase sem lavar, compulsivamente. Adoro perfumes-cereja que deixam um rasto florido pelos corredores doentes. Adoro presentes-cereja.
E, adoro cerejas-confidentes... As que tocam à campainha a meio da tarde de sofá-obrigatório, pós-picadela na barriga-balão de mãe-ansiosa. As que, muitas, são engolidas num suspiro mágico de apagar os momentos difíceis.
Obrigado cerejas do saco transparente quase a rasgar de tão apinhado, por me encherem um pouco mais a barriga, mas muito, mesmo muito a alma nesse dia de amniocentese de há cinco anos atrás.
Agora o ombro-amigo é meu: S. & as cerejas |
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