Os olhos que se despistam, os abraços apaixonados, os sorrisos que nascem, os gestos que se apagam, os mimos que correm, os chinelos que encaixam nos pés, as bolachas de chocolate que espreitam nas gavetas, as mazelas escondidas. Somos tudo isso e muito mais...Eu e o R., somos actores de um palco qualquer num momento qualquer...
No palco do sofá, o R. é o Vovô T. de voz grossa arrastada, que gentilmente pede os chinelos e eu sou a Vovó P., que com um sorriso nos lábios faz repousar a manta morna sob as pernas de ambos apaixonadamente juntas. Pedem um chá fumegante de todas as noites. Ouve-se a música pingada do chá a deslizar nas chávenas transparentes... A Vovó P. (eu) ergue o braço e o Vovô T. ( R.) eleva a voz grossa arrastada e pinta um olhar de reprovação. A Vovó P. de verdade nunca o poderia fazer porque tem braços frágeis como os pés das flores bebés, que uma vez partiram com o sopro do vento e a fita-cola do hospital não cola braços frágeis como os pés das flores bebés. A Vovó P. (eu) deixou cair os braços partidos e o Vovô T. (R.) ofereceu-lhe, com as suas mãos compridas e pintalgadas de lápis de cor, um chá terno e delicioso nos lábios... Acaba assim a história em que me esqueci de vestir a Vovó P. tal e qual ela é. Acaba assim a história em que o R. pintou o amor que vê em cada momento daquele sofá e que eu nunca tinha visto....
Todos os que nos rodeiam são fotocopiados em instantes que me despertam...O R., tal como os príncipes-meninos, olha os outros com os olhos e com a alma e isso fá-lo ver mais e mais...
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