Os nomes dos filhos. Lembro-me de escrever contos de fada, intermináveis, no auge dos meus delicados e franzinos dez anos de idade (ou talvez menos), sentada numa mesa de ferro verde da casa da minha avó, abafada pelo calor debaixo das telhas. Escrever com uma letra de régua e esquadro desenhada, empunhando um lápis de ponta bem aguçada comprado na loja da Dona Arminda, sem algum erro ortográfico e a deixar-me entrar dentro do conto como uma outra qualquer personagem. Assinava com pseudónimos aventureiros de nomes faustosos que vira em livros nas estantes de casa. Lembro-me de imaginar, sozinha em devaneios, que nomes daria os três filhos que sempre disse que iria ter. O nome dependia do género e nunca de nada mais. Mas, é tão pouco verdade… Gastei alguns dos meus nomes de eleição em afilhados e filhos de amigas. Outros, perdi-os nos leitos de meninos doentes, porque o nome me fazia lembrar um rosto e um destino, por isso não o queria. Ainda outros, conheci-os com gente dentro, gente que fazia que o nome bonito até então, virasse do avesso. Há também os segundos nomes, que não servem de nada, a não ser que precisemos de chamar à atenção, ralhar ou diferenciar as milhentas Anas de sala de aula. Alguns descabidos, por serem imponentes, antiquados, parolos ou feios, passaram a ser preferidos.
Lembro-me de escolher o nome de cada um dos meus filhos. De ainda não terem um rosto mas o nome já ter uma alma.
R, de Rodrigo, com uma força destemida, difícil de escrever nessas mãozinhas trapalhonas, a adivinhar o esforço que fazes para tudo o que parece fácil aos outros te deslizar pelos dedos. S, de Sofia, homónima de nome e de alma. Foi o Pai que escolheu e por estranho que me parecesse, a miúda Sofia faz jus a todas as Sofias que conheço. Difícil de vergar e de sorriso farto, enche de luz e conduz-nos por aqui e acolá até onde ela quiser. MP, de Maria Pedro, porque ia ser um Pedro, que afinal não é, e porque junta a graça de uma Maria e um jeitinho charmoso do Pai, adoçando esta gravidez como um gelado de flor de sal...
O significado de cada nome está no coração que está lá dentro e ponto final.
Os nomes com alma e rosto, fotografados pela Brigida Brito |
"O significado de cada nome está no coração que está lá dentro e ponto final."
ResponderExcluirAssino por baixo e ponto final.
Risos...É tal e qual, não é?
ExcluirLindo :) É mesmo essa a verdadeira essência!
ExcluirAdorei a Maria Pedro! Não se lembrou ainda mãe... também eu seria um Pedro!! Eheheh
Felicidades
Heloísa
<3 <3
ResponderExcluirPois é verdade hj os nomes são aqueles q nunca imaginei q um dia poderia ser. Todas dão jus aos nomes dos seus e dos meus. Cada uma mais lindo q outro. Viva a pureza dos nomes
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