Encostados à porta, os olhos do R procuravam os meninos dos abraços longos e de amor-violento da sala do ano passado. Soltava um "olha..." a cada rosto conhecido, mas o L (o amigo de sempre que não tinha medo dos apertos amoroso-efusivos) não chegou a aparecer. À chamada do seu nome acompanhado de um exclamativo "bom dia...", entramos para uma sala de aula calorosa mas ainda meio-despida de coisas de meninos. Com o R no colo, inquieto, sem sequer perceber quem era a Professora, tentei captar uma coisa ou outra do que ela dizia.
Apresentação aos meninos e pais dos 20 meninos terminada.
Sobramos dois: o R e a menina-que-queria-ir-à-escola cujo nome não sei. As mães dos meninos-comuns foram embora, apressadas, fardadas para o trabalho e preocupadas com o material imenso que a professora pedira. E, nós continuamos, para a reunião na Unidade de Ensino Especial. Nessa mesa, fervorosamente redonda, sentamo-nos. (O R foi brincar.) Éramos três Mães:eu e duas mães com rostos tão familiares (percebi que do hospital). Eram três professoras de sorriso amplo e airoso. Dei por mim a ouvir vidas alheias descritas como um processo clínico hospitalar recheadas de termos clínicos acertados, listas de fármacos com nomes difíceis que eram tão bem aplicados. Dei por mim a ouvir vidas que não cabem nas 24 horas de um dia. Dei por mim a ver agenda com consultas no hospital e aqui e acolá marcadas todos os dias ou dia sim-dia não. Dei por mim a olhar para o R com as suas minúsculas deficiências e a pensar que sou uma sortuda. Dei por mi a apetecer-me reformular a vida destes meninos e das mães... É verdade: consultas em dias consecutivos porque raramente alguém tenta marcar uma consulta multidisciplinar em que se unem as forças e a ciência numa manhã. Dei por mim a não ouvir lamúrias ou suspiros (que eu tantas vezes dou). Dei por mim a olhar mães de olhos cansados e caídos, mascarados pelo rímel, porque o "é assim, tem de ser, não há solução" foi-lhes dado como a única opção. Não acredito nisso. Acredito com todo o fervor que podem ser mudadas algumas coisas. Acredito e vou propô-lo. Em oposição ao que uma mente brilhante psicológica me disse um dia (há bem pouco tempo), as mães dos meninos menos comuns não têm de deixar de trabalhar. Eu não acredito nisso. Foi-me dito num sítio de meninos menos comuns como uma verdade inquestionável, servido com um olhar reprovador e fulminante, porque não acompanhava o R às terapias. Rechearam-se os meus olhos de lágrimas que caíram uma ou outra no barrigas da S. Mas, agora, que já não estou hormonalmente ondulante, penso com toda a certeza que está não é opção. Quero e preciso chegar do trabalho desgastante e ficar num namoro incontrolável com eles. É isso que preciso...
O primeiro dia de escola do R foi isto: um ponto de partida para novas mudanças...
Bom dia!
ResponderExcluirOntem também tive um primeiro dia com 26 meninos-comuns (segundo os papéis!).
Os meninos, comuns ou não-comuns, merecem ter um professor que goste do que faz e que esteja motivado. Espero sinceramente que seja o caso, pois o 1ºciclo é um mundo que pode ser maravilhoso.
Bom ano letivo para o R.
Se algum dia precisar, nem que seja de "desabafar", estou ao dispor.
Afinal, acho que encontrei a minha missão naquilo que faço.
Beijinhos
Que bom ler-te, Sofia, que bom para o Rodrigo. Força! Um abraço da Tia S.
ResponderExcluirNem sei o que diga, mas quero dizer algo: Muito amor para vocês. O R. É um menino com muita sorte ao ter uma mãe tão equilibrada.
ResponderExcluirMuita força e continua a ser essa Mulher, Mãe, Médica, Maravilhosa e Mais e Mais.... que Muitas qualidades tens como ser Humano.
ResponderExcluirSempre de sorriso aberto, expontâneo, contagiante e doce :-))
Beijinho para o R a pequena S e para a Mulher determinada e Linda ;-)