Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Relato do início de um ano lectivo

Relato de um início de ano lectivo. De um início de um ano lectivo diferente daquele que vejo nos retratos do facebook e nos posts da maioria das minhas amigas e conhecidas. É de uma amiga longínqua no espaço físico, mas tão chegada no coração. Escreve-me pela manhã de hoje, imagino que com o nervosismo que tão bem reconheço nas pontas dos dedos, porque sabe que o sinto com um laivo de dor na alma, uma dor que já trato por tu. 
Pedi-lhe para o tornar público. Aceitou.


"A semana passada (início de ano letivo) a diretora do colégio apanhou-me a ir buscar os meninos e pediu para falar comigo. O que teria para me dizer? No período entre as 13 e as 14 horas não tinham ONDE, nem COM QUEM o deixar ficar. Isto porque após o almoço ele fica mais agitado e, na sala, a educadora precisava de trabalhar com o grupo e não estava a ser possível. No ano passado, entre 13 e as 15 horas, ele tinha o apoio diário com uma auxiliar que agora estava a ser necessária no recreio e não poderia ficar com ele durante duas horas. Então falamos de várias soluções, nomeadamente a de eu ir ao colégio. Essa proposta foi de imediato contraposta com a de sair com ele do colégio essas duas horas e voltar posteriormente. Eu disse logo que essa opção nem pensar. Porque numa criança neurotipica já é difícil aceitar que a mãe o leve de novo para a escola quanto mais numa criança autista.Depois foi sugerido que as nossas terapeutas fossem ao colégio naquele período mas seria apenas uma vez por semana e não resolveria a situação. Outra alternativa era o apoio de uma professora de educação especial do colégio, obviamente paga como extra. 3 vezes por semana. Ou seja, ficariam ainda a faltar 2 vezes por semana, portanto nem isso seria a solução perfeita. Nos outros dois dias o que lhe faziam? Punham-o a um canto? Enfim. Depois desta conversa toda digerida começamos a ler nas entrelinhas e o que quiseram dizer foi: o seu filho financeiramente não é atrativo para o colégio porque como empresa não podemos colocar recursos apenas para ele. Portanto, por favor, retirem-se. (Não disseram mas de certo é o que pensam...)Isto tudo depois do ano letivo começar. Foi muito duro ouvir isto assim. Nu e cru. Não temos onde nem com quem ele fique das 13 às 14h. E então a família que se arranje. Que encontre soluções. Porque as que temos nem sequer asseguram os dias todos da semana. Eu fui uma defensora do colégio. E não me esqueço o tremendo esforço e o empenho que tiveram para com ele. Agradeço do fundo do coração o trabalho feito com ele. Mas não ao colégio. Agradeço à auxiliar que esteve permanentemente com ele e o ajudou tanto tanto no seu desenvolvimento. Ontem já reunimos de novo e a nossa decisão não podia ser outra senão sair.Hoje é o último dia dos meninos aqui. Foi duro, muito duro. Basta que tenhamos filhos com necessidades diferentes e ficamos muito mais sensíveis. Fui mãe há pouco tempo. Noites dormidas é como sabes. E, de repente sou apanhada (porque fui mesmo apanhada, nem uma reunião com o pai e a mãe teve a decência de marcar) com este valente murro no estômago... Foi vergonhoso a forma como trataram da situação por 1h diária. E a forma como me comunicaram. Mas já temos colégio novo. Com um método de ensino diferente. Quinta pedagógica e horta. Enfim. Vamos ver como corre. Começam na próxima segunda-feira. E, é isto o turbilhão da minha vida!"

Sim, é o turbilhão das nossas vidas... Sei-o de cor e salteado. O "não temos solução, o não há alternativas" é uma constante. Empurram-nos assim, desamparando e não olhando a meios.Tão esquecidos e tão abandonados. Quando ouço comentários de alguns Pais, penso para os meus botões, que não imaginam sequer a sorte que têm, em tudo ser mais fácil na normalidade. Ser um bocadinho desigual, é estar na beira do prato. Tentemos que assim não seja...
Estou contigo e, muito em breve seremos diamantes.





Saudade

Dizem que a saudade só existe em português. Não concordo. A saudade poderá ter outro nome qualquer mas é de todos, impalpável, inata. Eu sou toda cheia de saudades. No Verão, tenho saudades das camisolas de gola alta, de ver a chuva pingar no rio, do Natal e, no Inverno, tenho saudades do perfume a cocô do creme de praia e dos vestidos brancos, dos ombros decotados, do sol.  Nas férias, tenho saudades do rebuliço rotineiro dos dias de hospital e, no hospital, tenho saudades de não ouvir o alarme tocar logo pela manhã, que ainda é noite. Tenho saudades do cheiro a cadernos novos. Tenho saudades de ouvir música em silêncio. Tenho saudades de ir ao quarto-de-banho sem ouvir um  "oh mãe".  Tenho saudades das noites de hospital em que pedíamos cachorros ao lado de lá da rua e devorávamos por entre os doentes que não podiam esperar. Tenho saudades de mãos que afagam o rosto. Tenho saudades de estar grávida, porque já me esqueci dos últimos tempos difíceis que me avassalaram o corpo.
Mas tenho poucas saudades de gente. Tenho saudades da minha avó dos olhos cor de musgo (herdados pela Pedro, a MP que virou Pedro na boca de lábios finos da pequena S). Tenho saudades do meu avô austeramente lúcido, a dissertar todos os recantos do Mundo e as suas histórias da Índia. Tenho saudades da miúda índia, que perdi pelo caminho. Tenho saudades do P.-pai quando trabalha até tarde.  Tenho saudades tuas, meu R, quando vem a semana do Pai. 
Sou toda cheia de saudades...


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Porto sentido

As gentes do Porto, os tripeiros, sem travão na língua, de saia rodada qual Mercado do Bolhão... As gentes do Porto estão habituadas a paredes de pedra cinzentas e casas encavalitadas a desenhar a Ribeira mais maravilhosa do Mundo. As gentes do Porto sabem acolher como ninguém, falam alto e pára na rua para indicar os caminhos. As gentes do Porto são genuínas. As gentes do Porto têm de aprender a misturar-se com as gentes de outros sítios, aprender a tolerar as filas de trânsito, a conviver com aquilo que o turismo arrasta consigo. 
Houve um boom turístico, que empurrou a cidade e as suas gentes para a frente... As ruas riem até altas horas, em cada recanto há um novo espaço, a cidade move-se como nunca. E, isso é bom, estranhamente bom. 
Por isso, gentes do Porto, continuem de sorriso aberto a quem vem para nos conhecer, mesmo que isso implique sair uma hora mais cedo para entrar no trabalho. Faz parte...








Torre dos Clérigos


TUK-TUK, ser turista na cidade




Cordoaria

O porto no punho