Com o peso do mundo as costas... parece uma metáfora, um cliché, um exagero. Pode até nem parecer nada, sobretudo para quem também nunca sentiu esse peso esmagador da alma. Mas, senti-o também. Vi-o e senti-o. A sua potência esmagadora, o seu grito mudo escruciante, a sua força de Ulisses. Oscilava entre a posição de cócoras amparada pela parede nude e as pequenas mãos desnorteadas do pequeno filho no leito. Os olhos ficavam caídos, colados no chão esterilizado e, por entre momentos, deslizavam medrosos até encontrarem os olhos vagos e recheados de lágrimas do filho. As palavras eram soltas, num tom tão calmo que arrepiava, interrogatório-afirmativas de uma esperança muito vã. Fui-me deixando ficar de olho no monitor e em ambos, logo ali atrás dos processos clínicos. A reviver uma dor tão parecida. E, num esgar de lucidez, ultrapassado pela ciência, fui levantá-lo do chão, desamarra-lo da parede que segurava com o dorso franzino. Puxei-o e disse-lhe: “nós tratamos dele e faremos o melhor, cabe a vocês terem a fé e a força que nem vocês sabem que existe. Não permito que esteja assim...” Desenhou-se um sorriso e apertou-me com força as mãos.
Não sei se resultou, mas era simplesmente o que eu queria que me tivessem dito quando tive o peso do mundo às costas...
Aos colegas: sei tão bem o quanto é difícil dar más notícias e também sei tão bem, o quanto é duro ouvi-las. Mas, às vezes, acredito que na maioria das vezes, é imperativo, falar com os familiares, ouvir, responder e perguntar ou simplesmente, fazê-los sentir que estamos lá.
<3
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