Dizem que a saudade só existe em português. Não concordo. A saudade poderá ter outro nome qualquer mas é de todos, impalpável, inata. Eu sou toda cheia de saudades. No Verão, tenho saudades das camisolas de gola alta, de ver a chuva pingar no rio, do Natal e, no Inverno, tenho saudades do perfume a cocô do creme de praia e dos vestidos brancos, dos ombros decotados, do sol. Nas férias, tenho saudades do rebuliço rotineiro dos dias de hospital e, no hospital, tenho saudades de não ouvir o alarme tocar logo pela manhã, que ainda é noite. Tenho saudades do cheiro a cadernos novos. Tenho saudades de ouvir música em silêncio. Tenho saudades de ir ao quarto-de-banho sem ouvir um "oh mãe". Tenho saudades das noites de hospital em que pedíamos cachorros ao lado de lá da rua e devorávamos por entre os doentes que não podiam esperar. Tenho saudades de mãos que afagam o rosto. Tenho saudades de estar grávida, porque já me esqueci dos últimos tempos difíceis que me avassalaram o corpo.
Mas tenho poucas saudades de gente. Tenho saudades da minha avó dos olhos cor de musgo (herdados pela Pedro, a MP que virou Pedro na boca de lábios finos da pequena S). Tenho saudades do meu avô austeramente lúcido, a dissertar todos os recantos do Mundo e as suas histórias da Índia. Tenho saudades da miúda índia, que perdi pelo caminho. Tenho saudades do P.-pai quando trabalha até tarde. Tenho saudades tuas, meu R, quando vem a semana do Pai.
Sou toda cheia de saudades...
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