Relato de um início de ano lectivo. De um início de um ano lectivo diferente daquele que vejo nos retratos do facebook e nos posts da maioria das minhas amigas e conhecidas. É de uma amiga longínqua no espaço físico, mas tão chegada no coração. Escreve-me pela manhã de hoje, imagino que com o nervosismo que tão bem reconheço nas pontas dos dedos, porque sabe que o sinto com um laivo de dor na alma, uma dor que já trato por tu.
Pedi-lhe para o tornar público. Aceitou.
"A semana passada (início de ano letivo) a diretora do colégio apanhou-me a ir buscar os meninos e pediu para falar comigo. O que teria para me dizer? No período entre as 13 e as 14 horas não tinham ONDE, nem COM QUEM o deixar ficar. Isto porque após o almoço ele fica mais agitado e, na sala, a educadora precisava de trabalhar com o grupo e não estava a ser possível. No ano passado, entre 13 e as 15 horas, ele tinha o apoio diário com uma auxiliar que agora estava a ser necessária no recreio e não poderia ficar com ele durante duas horas. Então falamos de várias soluções, nomeadamente a de eu ir ao colégio. Essa proposta foi de imediato contraposta com a de sair com ele do colégio essas duas horas e voltar posteriormente. Eu disse logo que essa opção nem pensar. Porque numa criança neurotipica já é difícil aceitar que a mãe o leve de novo para a escola quanto mais numa criança autista.Depois foi sugerido que as nossas terapeutas fossem ao colégio naquele período mas seria apenas uma vez por semana e não resolveria a situação. Outra alternativa era o apoio de uma professora de educação especial do colégio, obviamente paga como extra. 3 vezes por semana. Ou seja, ficariam ainda a faltar 2 vezes por semana, portanto nem isso seria a solução perfeita. Nos outros dois dias o que lhe faziam? Punham-o a um canto? Enfim. Depois desta conversa toda digerida começamos a ler nas entrelinhas e o que quiseram dizer foi: o seu filho financeiramente não é atrativo para o colégio porque como empresa não podemos colocar recursos apenas para ele. Portanto, por favor, retirem-se. (Não disseram mas de certo é o que pensam...)Isto tudo depois do ano letivo começar. Foi muito duro ouvir isto assim. Nu e cru. Não temos onde nem com quem ele fique das 13 às 14h. E então a família que se arranje. Que encontre soluções. Porque as que temos nem sequer asseguram os dias todos da semana. Eu fui uma defensora do colégio. E não me esqueço o tremendo esforço e o empenho que tiveram para com ele. Agradeço do fundo do coração o trabalho feito com ele. Mas não ao colégio. Agradeço à auxiliar que esteve permanentemente com ele e o ajudou tanto tanto no seu desenvolvimento. Ontem já reunimos de novo e a nossa decisão não podia ser outra senão sair.Hoje é o último dia dos meninos aqui. Foi duro, muito duro. Basta que tenhamos filhos com necessidades diferentes e ficamos muito mais sensíveis. Fui mãe há pouco tempo. Noites dormidas é como sabes. E, de repente sou apanhada (porque fui mesmo apanhada, nem uma reunião com o pai e a mãe teve a decência de marcar) com este valente murro no estômago... Foi vergonhoso a forma como trataram da situação por 1h diária. E a forma como me comunicaram. Mas já temos colégio novo. Com um método de ensino diferente. Quinta pedagógica e horta. Enfim. Vamos ver como corre. Começam na próxima segunda-feira. E, é isto o turbilhão da minha vida!"
Sim, é o turbilhão das nossas vidas... Sei-o de cor e salteado. O "não temos solução, o não há alternativas" é uma constante. Empurram-nos assim, desamparando e não olhando a meios.Tão esquecidos e tão abandonados. Quando ouço comentários de alguns Pais, penso para os meus botões, que não imaginam sequer a sorte que têm, em tudo ser mais fácil na normalidade. Ser um bocadinho desigual, é estar na beira do prato. Tentemos que assim não seja...
Estou contigo e, muito em breve seremos diamantes.
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