Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sirenes e reclamação que me gritou aos ouvidos

Reclamação de um cidadão para o INEM.

"Tenho verificado que esta nossa cidade parece que está em guerra. É impressionante o número de ambulâncias do INEM que percorrem a cidade. Pessoalmente estou totalmente convencido de duas coisas: 

1. Muitas vezes as ambulâncias do INEM não vão com ninguém nem se deslocam em emergência e levam as sirenes ligadas - simplesmente têm pouca vontade de ficar paradas nos sinais vermelhos e ligam a sirene. Sei que isto é mesmo assim já que os sigo e vejo que não levam ninguém. Nem sequer é valida a informação de que regressam à Sede para novos casos é válida já que, com os atuais sistemas de comunicação, não precisam de ir à sede para receberem aviso de novas emergências. 
2. As sirenes têm um regulador de intensidade. Estou absolutamente seguro que os condutores os levam sempre no máximo da sua potência, o que provoca uma poluição sonora absolutamente insuportável. As sirenes ouvem-se a 3 e 4 quarteirões de distância, quando bastavam que se ouvissem a 50/70 m de distância. 
O que afirmo é facilmente comprovável. Visito regularmente cidades com vários milhões de habitantes - Madrid, Paris, Londres, etc e nada disto se passa. Naturalmente, mantendo todo o respeito pelo excelente trabalho de socorro que fazem a vítimas necessitadas de emergência, penso que existe um abuso inqualificável por parte dos condutores das Vossas viaturas. 
Deixo ao Vosso cuidado analisarem esta situação".

Li uma vez e ri-me. Achei que não merecia comentários. Mas, voltei a ler mais algumas vezes e não consigo ficar inerte. 
Desculpe-me o caro cidadão do Mundo, com ouvido sedento de sirenes. 
Respondo como cidadã e como tripulante de uma amarelinha onde se desenha um boneco e diz Transporte Pediátrico. 
Sou Pediatra do TIP Norte e integro uma equipa constituída por médico, enfermeiro e técnico de ambulância de emergência. Respondo apenas e só por mim.
1. Resposta à parte do "Muitas vezes as ambulâncias do INEM não vão com ninguém nem se deslocam em emergência e levam as sirenes ligadas - simplesmente têm pouca vontade de ficar paradas nos sinais vermelhos e ligam a sirene. Sei que isto é mesmo assim já que os sigo e vejo que não levam ninguém." Muitas vezes levamos sirenes ligadas para ir buscar crianças doentes a vários locais do Norte do País e ainda não as temos na ambulância. Sim, é verdade, passamos rapidamente de maca vazia e monitores desligados para prestar ajuda em algum local que nos solicitou. Outras vezes, já de regresso ao hospital, somos novamente activados para nova saída mas se tivermos de repor a carga da ambulância, voltamos a ir de maca vazia com sirenes ligadas e numa ligeireza que a meu ver se justifica. 
Desculpe de o incomodamos. 
E agradecemos mas não precisamos de guarda-costas para nos seguir. Isso sim é uma atitude estúpida e desprezável porque pode causar uma colisão.
2. Resposta à parte do "As sirenes têm um regulador de intensidade. Estou absolutamente seguro que os condutores os levam sempre no máximo da sua potência, o que provoca uma poluição sonora absolutamente insuportável. As sirenes ouvem-se a 3 e 4 quarteirões de distância, quando bastavam que se ouvissem a 50/70 m de distância.". 
Às vezes, muitas mesmo, eu própria gostaria de por a sirene no máximo porque os outros condutores não se arrumam ou então são surdos. Muitas vezes, eu própria, pedi para o fazerem. Acho que os Pais dos meninos que vão na nossa ambulância ou que esperam por ela, agradeciam que as sirenes ainda gritassem mais alto.

Desculpe caro incomodado pelo ruído das sirenes, mas no que depender de mim, sempre que se justificar (e essa parte, pretensiosamente lhe digo, somos nós que sabemos avaliar), vai ouvir...
Abusadores não são os nossos TAEs (tal como lhes chamou), nem as sirenes, são apenas e só estes comentários de quem espero que nunca precise.

De regresso às 7 h da manhã e sirenes desligadas










Um comentário:

  1. Como cidadã e bombeira, apenas tenho a dizer: Meu caro cidadão, espero que nunca venha a precisar, que a sirene da ambulância, toque para si ou para os seus. Porém, já que refere tanto " respeito pelo excelente trabalho de socorro que fazem a vítimas necessitadas de emergência" agradeço-lhe desde já que não siga as ambulâncias, com o pensamento de que só querem passar à frente de todos, mas sim, para se desviar e facilitar o acesso a estas ambulâncias, quando, assinalam marcha urgente de socorro. Todavia, em vez de fazer estes comentários, infelizes, aproveite, para tirar um pouco do seu tempo e informe-se com as demais entidades, sobre esta situação, pois, acredito que numa próxima situação, não irá pensar da mesma forma. Obrigado.

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