Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Os Meus

Os que são meus.  É engraçado ouvir sonantes comentários acerca da proximidade com os doentes, ou no caso da Medicina Pediátrica, com os Pais. Questionável, até, diria eu... Mas, na verdade, sou-lhes absolutamente indiferente, passam por mim como uma brisa amena daquelas que não faz o cabelo deslizar no rosto. Os inquilinos daquelas oito camas são meus. São meus durante 24 horas consecutivas e mais outras tantas que se vão semeando todos os dias.  Mas também são meus quando dispo a desarranjada farda amarela e vou para casa, ou quando vão habitar outra cama fora dali.
E, aos que são meus, assumo com eles a dor, a taquicardia, a angústia, a alegria, a vitória. Quero estar no momento de dar a volta ou do click. Não deixo que fiquem na dúvida ou na incerteza, ou pelo menos tento que não o fiquem. Não permito que se sintam sozinhos. Amparo as lágrimas corridas. Respeito a ira. E, por isso, quando um inquilino (não raras vezes), decide abandonar o caminho, exausto do caminho empedrado que se ergueu perante a sua pequenez, também é minha uma tristeza aliviada.
Ao meu pequeno que fugiu devagarinho para um caminho que terá talvez perfume a gelado de mirtilo, será morno como um fim de tarde de Verão e talvez tenha borboletas a dançar ao som de risadas de criança. Boa viagem! 


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