Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


quarta-feira, 23 de março de 2016

Amigavelmente-migas

A-m-i-g-o-s, contam-se pelos dedos de uma mão, e não os conto todos. Poucos mas genuínos, sempre foi assim. A-m-i-g-o-s  escrito com o, despojados, sem comparar ao espelho ou olhares de soslaio no balneário, sem querer trocar roupas giras, sem andar de braço dado pelo corredor da escola, sem saber todas as histórias românticas do miúdo giro da turma do lado, sem diminutivos hipócritas  que perderam letras pelo caminho de "-mor ou -miga", sem obrigações, sem ralhetes de comando, sem definições bimbas de "melhor amiga", sem horas marcadas, sem rotinas.  A-m-i-g-o-s das festas da garagem, das explicações uma hora antes dos testes, dos elogios vaporosos, dos colos quando está a chover, das críticas ao teu cabelo novo com franja ou das calças que não te ficam bem no rabo. Sou desses a-m-i-g-o-s, desses poucos que quase já não há. Sou a favor dos amigos que me dizem que estou bem de salto-agulha, mas que me puxam as orelhas se tomei uma decisão errada. Dispenso os amigos de "-mor ou -miga", que falam mal uns dos outros nos lanches vespertinos com a "-miga" do lado, que elogiam a tua pior saia de sempre e que dão palmadinhas nas costas mesmo quando fazes a maior estupidez aos olhos de todos (porque se assim não acontecer, acabou-se a -mizade, ok?-). 
Por isso mesmo, A-m-i-g-o-s que são meus, quase todos se escrevem com o, contam-se pelos dedos de uma mão, e não os conto todos.

Das poucas que não se escrevem com o


ABC da segurança

Quantas vezes ouço dizer que a distância é curta ou que a criança já não fica bem naquela cadeira, por isso, vai ao colo. A criança enquanto passageira do veículo automóvel, se não adequadamente transportada, é um alvo fácil em caso de acidente. São tantos os pormenores e as ofertas de cadeiras automóvel que torna tudo difícil. Para facilitar a escolha, a decisão e, mais do que tudo, para aprender  a transportar o bem mais precioso que temos, não posso deixar de aconselhar o Workshop ABC da Segurança, já no dia 2 de Abril. 




Imperdivel...


A S a desfrutar da sua cadeira maravilhosamente prática e segura




terça-feira, 22 de março de 2016

S-a-U-d-A-d-E

(S-a-U-d-A-d-E: tão lusitana, mas tão do mundo... Só faz sentido ler este tributo com esta música:
Comptine d'Un Autre Été)

Aos que se vão, aqui e acolá, sozinhos ou em grupo, de fato-gravata e pasta em punho, lado a lado com a senhora com o menino de colo, numa cama de hospital, durante um sonho. Aos que se vão, sem nomes, desmembrados sem tempo para tomar um último café quente. Aos que se vão, de mão dada com o amor de uma vida. Aos que se vão, sem tempo de dizer adeus. 
Mas, muito mais aos que ficam. Aos que esperavam do lado de lá e aos que já não esperavam mais nada. Aos que ficam, que são os que choram, os que sentem o frio da pele, se dela sobrar um pouco para poder sentir. Aos que ficam, abraçados aos retratos em papel, que tem medo de esquecer os rostos. Aos que se arrependem de não terem sido ou não terem dito, enquanto ainda havia tempo. Aos que ficam amarrados à saudade. Aos que ficam atordoados. Aos que continuam a viver. 
Vivo-o semana a semana, fragmentado. Cada dia que vais, morre um bocado de mim, que acorda quando voltas. Cada dia que vais, abafo mais um abraço que te devia ter dado.

Recado para os que ficam: abracem de braços cheios, beijem até perder o fôlego, digam tudo, amem, chorem, vivam cada pedaço de tempo como se fosse o último...


Aos que ficaram de hoje...






sábado, 19 de março de 2016

O Pai tem...

O Pai tem barba a encher as bochechas iguais às da minha avó e pica na minha cara. O Pai tem as unhas roídas e uns dedos iguais aos meus, que se sobrepõe quando está pensativo. O Pai tem palavras rápidas e fica bonito quando está zangado. O Pai tem um perfume que dá comichão no nariz. O Pai tem braços grandes que me levantam e me fazem deitar encostada ao pescoço quente. O Pai tem muitos amigos e gosta de festas. O Pai gosta da parte dos bolos que fica crua e faz doer a barriga. O Pai gosta de abrir os frascos de vidro da Compal para sentir, na ponta dos dedos, o estalido. O Pai gosta de arroz com frango e não de arroz de frango, como a Mãe lhe ensinou a dizer.  O Pai aprendeu a gostar de retratos e fotografias e agora já pede para o fazermos. O Pai ajuda muitos meninos e meninas a nascer mas, a mim, segurou-me nos braços trémulos e vestiu-me roupas de anjo. 
O Pai respira um vento morno na minha cara quando nos deitamos lado a lado ao ritmo dançante do bater do coração. 
O Pai, que é meu, guardo-o em cada fragmento de célula de mim e enche-me de luz a alma.
Agradeço já pelas caminhadas que fazemos e faremos juntos lado a lado, porque quando for maior e me esquecer de o fazer, podes lê-lo aqui.
Feliz Dia de Ti...

S&P, por Ricardo Siva Fotografia

quarta-feira, 9 de março de 2016

Os nomes dos filhos

Os nomes dos filhos. Lembro-me de escrever contos de fada, intermináveis, no auge dos meus delicados e franzinos dez anos de idade (ou talvez menos), sentada numa mesa de ferro verde da casa da minha avó, abafada pelo calor debaixo das telhas. Escrever com uma letra de régua e esquadro desenhada, empunhando um lápis de ponta bem aguçada comprado na loja da Dona Arminda, sem algum erro ortográfico e a deixar-me entrar dentro do conto como uma outra qualquer personagem. Assinava com pseudónimos aventureiros de nomes faustosos que vira em livros nas estantes de casa. Lembro-me de imaginar, sozinha em devaneios, que nomes daria os três filhos que sempre disse que iria ter. O nome dependia do género e nunca de nada mais. Mas, é tão pouco verdade… Gastei alguns dos meus nomes de eleição em afilhados e filhos de amigas. Outros, perdi-os nos leitos de meninos doentes, porque o nome me fazia lembrar um rosto e um destino, por isso não o queria. Ainda outros, conheci-os com gente dentro, gente que fazia que o nome bonito até então, virasse do avesso. Há também os segundos nomes, que não servem de nada, a não ser que precisemos de chamar à atenção, ralhar ou diferenciar as milhentas Anas de sala de aula. Alguns descabidos, por serem imponentes, antiquados, parolos ou feios, passaram a ser preferidos. 
Lembro-me de escolher o nome de cada um dos meus filhos. De ainda não terem um rosto mas o nome já ter uma alma. 
R, de Rodrigo, com uma força destemida, difícil de escrever nessas mãozinhas trapalhonas, a adivinhar o esforço que fazes para tudo o que parece fácil aos outros te deslizar pelos dedos. S, de Sofia, homónima de nome e de alma. Foi o Pai que escolheu e por estranho que me parecesse, a miúda Sofia faz jus a todas as Sofias que conheço. Difícil de vergar e de sorriso farto, enche de luz e conduz-nos por aqui e acolá até onde ela quiser. MP, de Maria Pedro, porque ia ser um Pedro, que afinal não é, e porque junta a graça de uma Maria e um jeitinho charmoso do Pai, adoçando esta gravidez como um gelado de flor de sal...
O significado de cada nome está no coração que está lá dentro e ponto final.

Os nomes com alma e rosto, fotografados pela Brigida Brito

terça-feira, 8 de março de 2016

Não há duas, sem três

E, porque não há duas, sem três...
Barriga voluptuosa que insufla como um balão de S. João, desejo de molho escarlate de francesinha, nervoso-miudinho a cada exame, mais doce que um balde a verter pipocas nos cinemas do Arrábida...
Apresento a MP, menina-trapezista na minha barriga, a prometer fazer girar o mundo ao contrário com um sorriso...


MP & eu




A nós, mulheres


Há mulheres: com cabelos esparguete ou em novelo, tingidos de cor da palha ou da noite, umas com lábios pincelados de compota de morango, outras com lábios gretados do frio, umas com formas voluptuosas, outras singelas, umas com mãos de cetim mergulhado em óleo de maracujá, outras com mãos ásperas como a língua dos gatos.
Há mulheres: enamoradas, independentes, casadas, divorciadas, viúvas. Há mulheres: sozinhas ou acompanhadas.
Há mulheres: com clutch, com cestas de verga, com carteiras sofisticadas, com sacos de trapos.
Há mulheres: com sonhos, ideias e pensamentos nas pontas dos dedos, que fazem, constroem e rodopiam ao som do bater do relógio, outras com uma apatia generosa de viver, que ficam sentadas, que se moldam e definham.

Às mulheres de sonhos nas pontas dos dedos que conheço... (Abaixo, algumas mulheres cujas pontas dos dedos, se cruzam com as dos meus, no reino dos príncipes e princesas.)